terça-feira, 26 de abril de 2011

A máquina de escrever e o paradoxo dos esmaltes

flocos

Como eu bem disse no post anterior, só comecei a usar esmaltes pra dar uma chance ao meu lado menininha em meio a todo o caos que eu passava (e passo). Só que eu percebi agora o quanto isso está às avessas. Por que, no momento que eu mais deveria roer unhas de nervoso, estou aqui me impedindo pra não estragar as garrinhas.

Minha mão sempre foi muito, muito feia. Não estou exagerando não, galerinha. Quando eu era criança, minha mãe tinha uma máquina de escrever super vintage, que ela usava lá nos anos 60, quando ainda trabalhava com uns banqueiros todos metidos a besta. Claro que depois disso ela deixou de ser “escriturária”; subiu na vida, passou em concursos, virou chefe, etcs. Mas a máquina, que ela comprou pra treinar em casa a datilografia, ficou aqui.

E meus olhinhos cintilavam quando viam aquela grande máquina vermelha brilhante cheia de teclas, que fazia um barulho muito gostoso quando eu macetava tudo quando tentava escrever coisas que eu nem imaginava por onde começar. Aliás, tudo que eu mais queria naquela época era aprender “as palavras” pra finalmente escrever, e consequentemente,  usar a máquina vermelha barulhenta.

Mas tem um porém nessa máquina maravilhosa: as teclas. Eram duras, espaçadas, e meus dedinhos não eram os mais gordos e nem eu a mais precisa. Po, eu tinha uns 3 – 4 anos. Então, TODA VEZ eu enfiava o dedo no meio das teclas. Quem nunca sentiu isso não faz idéia. Doía pra c*r*lho, arrebentava minhas cutículas, estourava a unha e como meus ossos ainda eram molinhos… entortou meus dedos.

maosmao

Só que eu nunca me arrependi. Sério… era o ponto alto do dia. Eu roubava a máquina do quarto da minha mãe quando ela ia trabalhar, e, enquanto minha vó ficava cuidando do jardim, carregava pro meu quarto - aquela poha era pesada pra cacete, haha. Sentava no chão, colocava a máquina de escrever num banquinho e começava a porrada das teclas. Elas me venciam sempre, me machucavam, mas eu me divertia demais. O barulho, o fato de ser algo antigo da minha mãe, a cor, a mágica de apertar os botões e sair uma varetinha de metal específica em direção ao papel cuidadosamente colocado naquele estranho rolo que girava sozinho e ia de lá para cá quando eu apertava uma tecla…. coisa linda.

Minha mãe deu essa máquina pra uma prima minha quando eu ainda era criança, sem me avisar, porque ela precisava de algo pra escrever trabalhos da escola e eu só estava brincando com uma coisa séria.

Em um mês a garota não queria mais, e a mãe dela (minha tia) jogou essa maravilhosa fábrica de alegrias da minha infância no lixo, por ser uma “velharia inútil”.

…É.

Por toda minha infância – e consequentemente, adolescência – eu não me importei com a aparência das mãos. Tudo que me importava era viver algo, construir algo, ter alguma experiência, essas coisas todas. Elas sempre foram bem deixadas de lado, eu nem me importava por meus dedinhos serem tortos, ou por roer as unhas (talvez só em alguns momentos mais formais)… e agora que as coisas estão difíceis, complicadas, tão enroladas que eu mal consigo sair desse emaranhado de problemas, dou uma atenção como nunca tinha visto.

Já não lavo a louça se acabei de fazer as unhas (só com luvas), parei de roer, penso duas vezes antes de descolar adesivos de embalagens – aliás, abrir embalagens em geral virou dilema. E curiosamente esse cuidado todo tem me deixado mais nos “eixos”. É um tipo de atividade mecânica que me distrai enquanto rearranjo todos meus pensamentos complicados.

Mas verdade seja dita. Se aquela máquina lindinha vermelha surgisse novamente em minha frente, eu sinceramente largava o pote de Halley’s Comet no chão e ia lá brincar de escrever. :)

maquina

Certeza.

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Delineador

delin

Minha história com maquiagem é meio hipócrita (ui!).

Quem me conhece desde minha aborrecência sabe que eu sempre fui muito contra essa coisa de ficar se emperequentando. Eu vivia dizendo que

“isso de pintar a cara, usar salto e ficar se embelezando é tudo uma máscara ridícula social que nada mais é como um pavão que abre as asas tentando acasalar, argh! e o pior, ao menos no mundo animal irracional esse papel é dos homens; no nosso são as mulheres que se expõe ao ridículo!!”

Fato.

Até hoje eu acho isso uma verdade, viu. Boa parte das garotinhas (que eu geralmente chamo de “garotas sorriso”) só pensa em cosméticos por conta do que os machos-alfa vão notar nelas. Aí junta essa coisa desesperada por sexosexosexo com uma tremenda falta de personalidade, e o que se vê? Um bando de garotas idênticas andando de lá pra cá em baladas com suas partes expostas buscando um macho-alfa que as aceite.

Tsc.

Mas hoje, eu, de certa maneira (hipócrita), resolvi adotar algumas dessas coisas fúteis de emperequetamento. Obviamente não pelos mesmos motivos… mas…

Deixa eu explicar, do começo. Nos últimos anos eu passei por muito problemas difíceis de lidar, e minha vida estava (ainda está, na verdade), uma droga. Quando eu finalmente tive um sopro de ânimo, resolvi que alguma mudança precisava ser feita pra virar o jogo. Como eu tenho convicções muito fortes, difíceis de mudar (cabeça-dura define), escolhi aquela que era mais fácil tentar. A mais “externa”, a mais fútil, a mais sem maiores propósitos. E logo eu, a sempre tão revoltada, do contra, que soa ali em cima como uma feminista desenfreada, resolvi que podia haver vida inteligente na maquiagem. (oh!)

Durante um ano eu investi pra caramba em coisas que eu nem imaginava que existiam só pra trabalhar minha auto-estima: descobri que existe uma infinidade de pincéis diferentes pra passar sombra, quando antes eu imaginava que a esponjinha resolvia tudo. Tentei ver qual era a do rímel (máscara para cílios, para as que insistem em falar lâmina de barbear ao invés de gillette), mas eu sinceramente nem consegui passar, além de duas vezes em que fui em festas chiques (Deus me deu cílios que funcionam, bjs). Corretivo até aprendi a usar, descobri que com ele meu rosto não assusta mais tanto as pessoas pela manhã. Mas o resto… nem consegui tentar usar. Ou eu me sentia uma palhaça, ou era um esforço tão descomunal que não valia a pena.
(Easter egg: quando eu fazia jornalismo sempre achava um absurdo e ficava chocada que, a aula sendo 7 da manhã, tinha garota que acordava duas horas antes da hora que podia acordar só pra passar por todo esse processo infame de base, corretivo, corretivo 2, blush, iluminador, sombra, lápis, delineador, lápis de boca, batom, gloss).

As únicas coisas que assumi são batom e esmalte – mas definitivamente não da maneira que a “garota sorriso” (um dia faço um post sobre a “garota sorriso”) usaria. Tenho esmalte bizarro e batom azul. Definitivamente normalidade não está no pacote.

Mas meu mundo, depois de uma leve erguida, voltou ao cocô. E eu vi que essas coisas podiam me dar um pouco de auto-estima, mas não era isso que eu estava precisando. Eu precisava de algo que me ajudasse e enfrentar os problemas.

Foi quando eu tentei enxergar outras maneiras de se usar a maquiagem… o óbvio é investir em machos-alfa. Há também quem trabalhe sua auto-estima, e aqueles que veem o rosto como uma tela de pintura. Mas o que eu assumi, aquilo que eu vi foi que, em tribos indígenas, a pintura do corpo e rosto está relacionado com luta, guerra, e por fim comemoração.

E foi nisso que eu investi.

Era preciso dar uma guinada, sair dessa, tentar lutar. Já faço tudo o que eu posso, mas precisava de um incentivo, uma máscara que pulsasse em mim uma adrenalina mais que necessária, uma força de vontade maior que a que eu poderia conseguir por mim, enfim… uma pintura de guerra.

E eis que, finalmente, decidi pelo delineador.

delinea_Avatar1_menor

É claro que é um tipo de futilidade. Sim, ajuda minha auto-estima ao ver meus olhos mais bonitinhos. E certamente o macho-alfa (ou pelo menos um desavisado) vai notar. Aí está um pouco de minha hipocrisia…

…mas o que importa é que, para mim, sempre que eu preciso me envolver em algo relacionado ao meu trabalho, ao meu futuro, algo difícil de lidar, lá estarão essas duas tirinhas de tinta preta em minhas pálbebras. É bobo, fútil, incomparável com pinturas indígenas pela discrição que tem – e provavelmente não significa a mesma coisa para mais ninguém.

Mas é o que eu tenho pra hoje.

Até que eu consiga dar um jeito em todo o cocô na minha vida, vai ser assim que vai ser.

Desisto.

mao

Eu nunca vou conseguir ir para frente. Não adianta… não faz diferença nenhuma pensar diferente neste mundo.

Como eu não consigo me alavancar porque infelizmente eu não tenho ego, não tem jeito. Eu posso sofrer como uma poetiza romântica que o que vai acontecer é todos olharem para mim e seguirem suas vidas. Não que eu quisesse atenção por conta do sofrimento, acho patético quem resolve aparecer com isso. O problema é a atenção que eu queria antes de sofrer.

Já perdi muitas de minhas convicções ao longo desses anos, mas algumas sempre se mantiveram firmes. Não acho que isso vá durar. Eu vejo que não adianta nada distinguir certo de errado se o que basta nesta vida é você fingir que é excelente; fazer um trabalho errado mas se achar de tal maneira que todo mundo, absurdamente burro, vai acreditar que é verdade seu talento. Soma-se a isso toda aquela coisa de puxa-saquismo do post anterior e você tem um sucesso instantâneo.

O problema é que é do meu jeito de ser nunca acreditar em mim mesma. Desistir de fazer as coisas por prever que não ficarão perfeitas, ou pelo menos aceitáveis (no meu conceito). Antes eu achava isso bom… hoje eu vejo que não adianta. Não adianta tentar sempre dar o melhor de si. O que é preciso, pelo jeito, é se munir de sangue frio, uma cegueira doentia e um ego maior que uma estrela de primeira grandeza. Enxergar qualquer trabalho fraco como a última bolacha do pacote, e usar todo seu charme, petulância, carisma e mais armas que munem o ego para vender o peixe podre. E as pessoas, por incrível que pareça, vão comprar como o melhor dos bacalhaus portugueses.

Eu achava que quando diziam “acredite no seu trabalho” a significação era para sempre buscar o seu melhor, evoluir, corrigir os erros e etcs. Mas nem era… só bastava fingir. O bom e velho caminho fácil tem mais chances de levar ao sucesso que o caminho difícil do crescimento verdadeiro.

Mas, enfim, eu não consigo ser desse jeito. Quando tentei impulsionar meu ego, recebi tantas represálias por “estar me achando” que sinceramente, vi que nem mesmo fingir algo assim eu consigo. E quando eu humildemente apresentei  algo que fiz, que achei finalmente estar de acordo com meus preceitos, vieram todas as críticas que nunca surgiram para os senhores do ego.

A verdade é que, pra mim, não tem solução. Pois eu não acredito em mim, ninguém há de acreditar em mim. Não sei ter essa maldita poker face que abre portas.

E, desta maneira, nunca vou conseguir ir pra frente.

quarta-feira, 20 de abril de 2011

O puxa-saquismo

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Uma coisa que eu sempre fui contra, nunca fiz e tenho ódio de quem faz é o famigerado puxa-saquismo. Aquele ser lambe-bolasbotas, que rasga seda, baba ovos, bajula em atitude quase servil. argh

Olha, desde sempre eu vi isso acontecer ao meu redor, e sempre fui categórica: se é alguém que eu conheço, eu reclamo no ato. Aponto e digo que feio! sem o menor medo de parecer chata ou intrometida. Não dá, gente! Porque nesse mundo do puxa-saquismo, está tudo absurdamente errado.

Por exemplo, o que leva uma pessoa comentar com quatro mensagens diferentes no status de uma pessoa no facebook adjetivos diferentes e absolutamente pedantes (Influência Dali... Bom mesmo... Surreal… Lissérgico!)? O que leva alguém divulgar o trabalho de outra pessoa como a maior revolução deste universo e a melhor coisa produzida neste milênio, sendo que esse trabalho não é essa coca-cola toda? Por que é que algumas pessoas sentem gosto em puxar-sacos para alguns, e aí o que me dá nos nervos, quando encontram algo bom mas que não é dessa gente só dizem “hum legal”?

Já é uma sacanagem errada impulsionar ego alheio quando não se é merecido. Mas ignorar quando a coisa pode ter algum valor? Ou então ter uma visão mais crítica, apontar aqueles pequenos defeitos que ao se comparar com o objeto do saco puxado mal é notável?

O problema é que minha aversão toda a essa coisa de bolas lambidas me deixou em maus lençóis hoje em dia. Parece que, principalmente nas duas áreas que eu amo (fotografia e cinema), o QI não é aquela coisa de somente conhecer a pessoa e ser indicada por ser conhecida (dã). Tem que rolar uma mão muito lubrificada de uma parte para se conseguir ir pra frente. E o pior, isso é disfarçado como “amizade”, uma coisa que eu nem vou comentar aqui senão vai looonge...

…Tá, só um pouquinho: do que eu falo é o tipo de “amizade” que as pessoas não sabem nada mais além de uma e da outra do que o interesse permite. Não rola ajuda mútua, não tem compaixão, não tem um tipo de entrega que pelo menos eu espero de uma amizade. É tudo baseado em aparências: as pessoas se encontram, se relacionam publicamente em cima de assuntos superficiais e do interesse e, de repente, começa a lambeção. E surge a “amizade”. Onde?

Mas, voltando pra mim. Como eu sempre aponto e critico quando a coisa vai pra esse lado, as pessoas começam a pegar raivinha de mim. Primeiro pelo óbvio: eu escancaro logo aquele joguinho que faria alguém ali dar uma alavancada. Segundo: as pessoas não acham isso errado e me colocam como um MONSTRO TERRÍVEL QUE VÊ A MALDADE EM TUDO. Terceiro, todo mundo ali sabe o quanto isso é bunda, mas ninguém gosta de enxergar isso ou que exponham. Daí me colocam no saquinho da pessoa ruim sem noção que mostra a verdade que ninguém quer vê.

Talvez seja mesmo, mas infelizmente eu tenho essa coisa bem “errada” dentro de mim que não me deixa ficar quieta, de seguir certas convenções sociais bestas e, olha, eu sei que isso que vem me derrubando. Mas não vou mudar não.

Mas a questão é que, além disso tudo, até hoje num houve um que puxou meu saco. Não opinou a meu favor. É gente que não quer saber do meu trabalho e até me boicota! Não que eu seja uma gênia, poxa, assumo que sou ruinzinha. Mas que tem gente pior que eu indo pra frente porque fez um network safado e errado… ah tem.

E fica nisso. Eu tentando correr pelas beiradas desse terrível “acordo social” lambe-botas e só me fodendo com isso.

Ah, queria me adaptar melhor nesse mundo, viu.